A imagem rodou o mundo e, para muitos, parecia impossível: de um lado, o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva; do outro, o Presidente americano, Donald Trump. O encontro do último domingo (26), em Kuala Lumpur, foi mais do que um simples evento diplomático. Foi uma aula magna sobre pragmatismo, demonstrando que, no grande tabuleiro da política mundial, a ideologia partidária tem um peso muito menor do que a necessidade de governar. E essa lição, vinda diretamente do palco global, ecoa com uma urgência surpreendente nos corredores do poder em Mato Grosso: A política, quando amadurece, ultrapassa fronteiras ideológicas e interesses pessoais.
Como pode dois líderes que representam espectros políticos tão antagônicos sentarem-se à mesma mesa para discutir agendas comerciais, econômicas e geopolíticas? A resposta é mais simples e, ao mesmo tempo, mais complexa do que parece. A retórica inflamada que incendeia palanques serve a um propósito claro: vencer a eleição. As narrativas são construídas para mobilizar bases e conquistar votos. Mas uma vez que a vitória é declarada e o mandato se inicia, a arte de governar exige uma moeda completamente diferente: a convergência.
É nesse ponto que a política se separa dos políticos amadores. Um gestor público de visão compreende que a máquina estatal não funciona com base em lealdade cega, mas em mesclar competência técnica com a atuação política de entregas. E aqui reside um desafio crucial: nem sempre o grupo que vence a eleição possui os quadros mais experientes para conduzir os serviços públicos. Administrar o bem comum, com suas normas, controles, responsabilidades, e implicações sociais, é um universo à parte da iniciativa privada.
É aqui que a verdadeira sabedoria de um líder se manifesta. Reconhecer que precisa de ajuda e buscar os melhores profissionais, independentemente de suas cores partidárias passadas, não é fraqueza, é grandeza. Contratar técnicos que serviram em gestões anteriores, mesmo de adversários, não é traição ao projeto político; é fidelidade ao compromisso com o cidadão. Essas pessoas, ao aceitarem o convite, não estão se curvando a uma nova ideologia, mas servindo ao projeto da gestão vigente, que, em última análise, deve ser o bem-estar da população. Não há demérito algum nisso. Pelo contrário, é a essência do serviço público.
Afinal, são os profissionais capacitados e experientes, incluindo os Servidores públicos efetivos que dedicam a vida à máquina pública, que garantem a continuidade e a eficiência. Eles são a memória institucional, o motor que faz o governo funcionar para além dos mandatos e das personalidades.
O agente político que compreende essa dinâmica deixa de ser um mero representante de um partido para se tornar um verdadeiro estadista, pois ele é, antes de tudo, um servidor do Estado e da sociedade. Isso exige diplomacia institucional. Sua função primordial é estabelecer um elo sólido de diálogo e colaboração entre o poder que representa e as diversas instituições que constroem o Estado e o Município, sejam sindicatos, universidades, setor privado ou a sociedade civil organizada. A gestão pública não pode, jamais, ser um projeto de vaidades pessoais.
No final, a lição da Malásia é cristalina e serve para presidentes, governadores e prefeitos. O aperto de mãos entre Lula e Trump não simboliza uma aliança ideológica, mas o reconhecimento de que, para governar, é preciso sentar-se à mesa com o mundo real.
A boa política é feita por pessoas preparadas, dispostas a servir e não a se servir. Profissionais competentes e experientes — especialmente os servidores de carreira — são o elo invisível que mantém a engrenagem pública em movimento, independentemente de quem ocupe o poder.
Quando diplomacia, técnica, política e vocação para servir caminham juntas, o resultado é um Estado que funciona, um governo que entrega e uma sociedade que confia.
Porque, no fim das contas, governar de verdade não é sobre quem aperta as mãos — é sobre quem estende a mão ao cidadão. E para isso, o mundo real exige menos palanque e muito mais governança.
Por: Ilson Galdino
DA REDAÇÃO
