Como a Batalha de 2026 Redesenha o Mapa do Poder para 2028
Por Ilson Galdino
Nos bastidores da política, as jogadas mais importantes relatadas são as mais óbvias.
Enquanto os olhos do grande público se voltam para a eleição 2026, as peças que definem o comando do Palácio da Cidadania, em Rondonópolis, estão sendo movidas agora, no complexo tabuleiro futurista de 2028.
Uma disputa que, à primeira vista, parece ser por uma vaga na Assembleia Legislativa, na verdade, é o campo de batalha onde se testam alianças, se medem forças e se pavimentam os caminhos ou se constroem os muros — para a próxima conquista municipal.
No centro desta estratégia está o atual prefeito, Cláudio Ferreira.
Com a máquina pública em mãos, ele orquestra um movimento duplo e calculado para neutralizar seus adversários mais diretamente.
O primeiro alvo é Zé do Pátio, ex-prefeito e figura política experiente, cujo legado na gestão municipal ainda reverbera e a credibilidade como um forte pré-candidato a Deputado Estadual.
A tática de Ferreira transcende as narrativas de campanha; ele age de forma pragmática para “minar” o grupo político de Pátio, contratando antigos apoiadores do ex-prefeito.
Este movimento tem um propósito claro: esvaziar a base de seu oponente enquanto fortalece a campanha de sua esposa e primeira-dama, Alessandra Ferreira.
A missão dela é igualmente dupla: vencer Zé do Pátio nas urnas e, com isso, garantir a sua própria cadeira na Assembleia.
Para Cláudio Ferreira, o sucesso dessa empreitada representa não apenas a eleição da esposa, mas um potencial xeque-mate nas ambições de rivais que poderiam desafiá-lo no futuro.
É neste cenário de fogo cruzado que emerge o empresário Neles Farias, presidente do PRD.
Filho da terra e com forte prestígio no setor produtivo, Farias entrou no jogo político acreditando na força de um pacto de lealdade.
Ele, que considerou ter dado apoio decisivo nas eleições que consagraram Cláudio Ferreira, cogitou publicamente que contaria com a devida reciprocidade.
A realidade, no entanto, foi demonstrada implacável.
Ficou nítido que essa retribuição não virá.
Do ponto de vista estratégico do prefeito, apoiar Neles Farias, que também se declarou pré-candidato a Deputado Estadual, seria o mesmo que fortalecer um concorrente direto ao Palácio da Cidadania em 2028.
Na política, a lealdade é uma peça descartável.
Há algo que nunca muda no tabuleiro do poder: a traição não é uma exceção é, muitas vezes, sua própria regra não escrita.
Na política, a traição assume contornos muito diferentes daqueles que condenamos nas relações pessoais.
“A política ama a traição, mas odeia o traidor.”
Essa máxima, que atravessa décadas da história brasileira, encontra eco direto no que acontece hoje em Rondonópolis.
Porque, no fundo, a lógica do fisiologismo e da traição não é uma anomalia.
É um mecanismo estrutural do jogo político.
E aqui cabe uma reflexão que ultrapassa os fatos imediatos:
Traição e fisiologismo sempre foram parte do jogo político.
A prioridade é o projeto político familiar.
A constatação de que trilharia um caminho solo, contudo, não paralisou Neles Farias. Pelo contrário, serviu como combustível.
Ele compreendeu que, no árido terreno da política, a confiança se constrói com ações e a força se mede pela capacidade de articulação.
Na política, assim como no xadrez, quem não lê os movimentos do adversário corre o risco de ser surpreendido pelo xeque-mate que sempre esteve no tabuleiro, ainda que disfarçado por sorrisos, discursos e alianças aparentemente sólidas.
O poder não corrompe. Ele apenas revela quem já estava corrompido.
E, mais do que nunca, os bastidores sussurram aquilo que dificilmente será dito em público: no teatro da política, ninguém é amigo para sempre, apenas aliado… até a próxima conveniência.
Longe de lamentar a aliança desfeita, Neles Farias carrega não apenas a força do setor produtivo e o prestígio de ser “filho da terra”, mas também a convicção de que chegou a sua vez de disputar. E já está com o “pé na estrada”.
Em sua primeira disputa eleitoral, ele demonstra maturidade política, está percorrendo o Estado, dialogando com lideranças e construindo uma base sólida, município por município, que lhe confere uma estrutura partidária que lhe dá uma capilaridade rara para um estreante.
O PRD, fruto da fusão entre Patriota e PTB, é o seu grande trunfo.
O partido hoje conta com uma força institucional concreta: o comando de quatro prefeituras — Indiavaí, Querência, Colíder e Juara — e uma bancada de 62 vereadores distribuídos por Mato Grosso.
É essa rede de apoio político que Neles Farias está ativando, transformando uma receita local em uma plataforma de lançamento para um projeto de escopo estadual.
A questão que se impõe é: qual a real possibilidade da candidatura de Neles Farias diante deste complexo cenário?
A ausência do apoio do prefeito em seu próprio reduto eleitoral é, inegavelmente, um obstáculo.
Em política, o apoio da máquina municipal tem um peso específico.
Contudo, a política não é uma ciência exata, e mesmo com essa ausência de apoio não paralisa Farias.
Pelo contrário, fortalece sua narrativa de independência e renovação.
E a força de Neles Farias reside exatamente onde a estratégia de Cláudio Ferreira não alcança: no interior do estado.
A estrutura do PRD, com seus quatro prefeitos e mais de sessenta vereadores, representa um capital político tangível.
Essa base permite que ele construa uma campanha de dentro para fora, consolidando apoios em diversas cidades para chegar fortalecido aos grandes colégios eleitorais.
Se Neles Farias conseguir converter essa rede de alianças municipais em uma votação expressiva em 2026, ele não apenas se tornará um Deputado Estadual competitivo, mas provará sua resiliência e capacidade de articulação independente.
Mais do que isso, ele se credenciará naturalmente como uma terceira via forte e liderará a disputa pela prefeitura de Rondonópolis em 2028 — já não mais como um aliado à espera de apoio, mas como um protagonista que construiu seu próprio caminho.
O xadrez está montado, e cada movimento, a partir de agora, será decisivo para o futuro comando do Palácio da Cidadania.
O eleitor rondonopolitano busca novas referências.
E, nesse cenário de desgaste de velhos grupos políticos e, também com os novos grupos que reproduzem práticas antigas; surge o nome de Neles Farias com força, ocupando o espaço de alternativa concreta, legítima e viável para quem busca renovação de fato.
DA REDAÇÃO
